domingo, 23 de agosto de 2020

António Roquete como praticante de basebol nos anos 20

 

A vida de António Fernandes Roquete (n. Salvaterra de Magos, 8 de Agosto de 1906 – m. Lisboa, 18 de Dezembro de 1995), uma figura que, devido às suas ligações a diferentes áreas de actividade, abre numerosas hipóteses de investigação no âmbito da história de Portugal e das suas colónias durante o século XX. Analisado quer na sua singularidade quer como exemplo dos diferentes papéis que desempenhou (casapiano, desportista, celebridade, agente e graduado de várias polícias, arguido do sistema de justiça política pós-revolucionário, etc.), Roquete, tal como a rede de personalidades com as quais contactou nas suas diversas funções, contribui, através da reconstituição (inevitavelmente lacunar e incompleta) da sua trajectória pessoal, para aprofundar o conhecimento sobre temas como o desporto, a actividade das polícias políticas do Estado Novo ou as últimas décadas de domínio colonial português em Moçambique.

Nascido em Salvaterra de Magos, no seio de uma família muito pobre, António Roquete entraria para a Casa Pia. Seria na dita instituição, que o antigo internacional português se revelaria um desportista de nomeada. Natação, basquetebol, pólo-aquático e até basebol, fariam parte da sua lista de modalidades praticadas. Contudo, e apesar de ser um atleta multifacetado, o futebol era a sua grande paixão

Menos conhecida é a experiência de António Roquete como praticante de basebol, modalidade introduzida em Lisboa por volta de Fevereiro de 1922, quando um grupo de portugueses começou a praticá-la sob a orientação de um treinador americano, J. Osterlund. Surgiu então uma secção de basebol no Sporting Clube de Portugal, cujos membros disputaram em 4 de Julho (data do aniversário da independência dos Estados Unidos da América) desse ano um jogo contra elementos da colónia americana em Lisboa. O primeiro desafio luso-americano de basebol terminou com a vitória dos portugueses e inspirou uma nova experiência no ano seguinte. Autorizado pela direcção da Casa Pia, Osterlund treinou um conjunto de “gansos”, que desconheciam até então a modalidade e a 4 de Julho de 1923 derrotaram por 25-24 uma equipa de americanos estabelecidos em Portugal184. Roquete foi um dos alunos da CPL a aderir ao basebol, praticado após o encerramento da época de futebol, com o objectivo de preservar a forma física dos jovens atletas. Nas entrevistas que concedeu mais tarde, António recordou o “engenheiro americano” que introduziu na CPL a “difícil prática” daquele desporto e o inesperado triunfo dos casapianos na partida de 4 de Julho, realizada no Campo das Laranjeiras185. Em Abril de 1925, já sob a alçada do CPAC, verificavam-se treinos de basebol aos domingos de manhã no Restelo, onde a 10 de Maio desse ano se defrontaram uma equipa do Casa Pia e um misto formado por cinco portugueses e três membros da família Osterlund, que se sagrou vencedor 

Pedro Miguel Coelho Serra - Tese de Doutoramento em História Contemporânea 

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